RAIN: uma prática para acolher suas emoções difíceis com gentileza

Dar conta do nosso mundo emocional não é tarefa fácil em um mundo tão acelerado. Por muito tempo, não fomos incentivados a dar espaço para nossos sentimentos. Nossa educação sempre priorizou o pensar e o fazer — desenvolvendo mais as funções pensamento e sensação — e, com isso, a função sentimento ficou esquecida e pouco cultivada. Desta forma, muitas vezes, a psicoterapia ficou sendo o único local na vida de muitos onde conseguimos de fato abrir espaço para este cuidado.

E eu percebo que, especialmente para mulheres que precisaram amadurecer cedo, que aprenderam a dar conta de tudo sozinhas, ser fortes e autossuficientes… abrir espaço para sentir pode parecer um território estranho. Por outro lado, também vejo muitas mulheres que acreditam que extravasar emoções de qualquer jeito — gritar, se jogar nos impulsos — é se dar o direito de sentir. Mas não se trata de suprimir, nem sobre extravasar sem cuidado.

Para todos que desejam se aproximar das próprias emoções com mais presença, quero compartilhar uma prática que uso muito em sessões de terapia e também comigo mesma. Chama-se RAIN e foi difundida pela psicóloga e professora de meditação Tara Brach.

RAIN é um acrônimo em inglês que nos conduz por quatro passos simples, mas profundos:

  • Recognize – Reconheça o que está acontecendo (uma emoção, um pensamento, uma sensação)
  • Allow – Permita que esteja presente, sem rejeitar ou forçar que vá embora
  • Investigate – Investigue com curiosidade e gentileza
  • Nurture – Nutra-se com compaixão

Abaixo, explico cada passo com mais detalhes. Se puder, quando for praticar, sugiro que você interrompa o que estiver fazendo, respire profundamente, solte um pouco a tensão do corpo e traga à mente uma situação que esteja te incomodando no momento.

Praticando RAIN:

1. Reconhecer
Aqui você apenas nomeia o que está acontecendo internamente, com honestidade e sem julgamento.
Pode se perguntar: “O que está acontecendo internamente agora? O que eu estou sentindo?”

Diga para si mesmo, em voz baixa ou mentalmente:
— “Estou com medo.”
— “Sinto vergonha.”
— “Estou sendo muito autocrítica.”
— “Há tristeza aqui.”

Só de nomear com clareza, você já está ajudando seu cérebro a regular a resposta emocional.

2. Aceitar
Depois de reconhecer algum pensamento, emoção ou sensação, vem o passo de aceitar. Podemos descansar na aceitação do que quer que esteja ali, sem precisar resolver, mudar, suprimir ou fazer juízo de valor julgando aquilo como bom ou ruim.

Você pode dizer:
— “Está tudo bem sentir isso agora.”
— “Essa emoção faz parte.”
— “Digo sim a isso que está aqui.”

Aceitar não é se render nem se conformar — é respirar junto com o que está presente.

3. Investigar
O próximo passo é ir um pouco mais fundo, investigando com curiosidade como isso se apresenta no corpo. Perceba que a investigação não é mental: “porque isso está acontecendo?”, “de onde isso vem?”, ou pior, “quem é o culpado por eu estar me sentindo assim?”. O foco aqui é direcionado para, com carinho e curiosidade, investigar como essa emoção se expressa no seu corpo.

Pergunte-se:
— “Onde essa emoção está no meu corpo?”
— “Como ela aparece? É uma pressão? Um nó? Uma vibração, calor, contração?”

Observe especialmente a região da barriga, do peito, dos ombros e do maxilar — são áreas que costumam guardar muitos conteúdos emocionais.

4. Nutrir
Por fim, coloque a intenção de nutrir com gentileza e compaixão esta parte sua que está sofrendo com as emoções difíceis. É hora de cuidar e oferecer para si mesma: presença, acolhimento, amor.

Pergunte-se:
— “O que essa parte de mim mais precisa agora?”
— “Como posso lhe dar atenção?”

E deixe o insight chegar: do que ela precisa? Um abraço, validação, apoio? Você pode inclusive colocar a mão sobre o coração — esse gesto simples regula o sistema nervoso e transmite conforto.

Se quiser, visualize uma presença amorosa te abraçando: a natureza, uma figura espiritual, um animal, uma avó… E diga para si mesma palavras que acolhem:
— “Eu estou aqui.”
— “Você não está sozinha.”
— “Está tudo bem em sentir.”


Que essa prática te ajude a atravessar momentos difíceis com mais leveza e consciência.

E lembre-se: se você estiver lidando com uma dor mais profunda, especialmente ligada a traumas, é importante buscar apoio profissional. Certas emoções, quando acessadas sozinhas, podem ser difíceis de conter. Não hesite em pedir ajuda — isso também é um gesto de amor.

Com carinho,
Monique

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