O trabalho com o Eneagrama envolve nossa capacidade de observarmos tudo o que somos – e não somos – enquanto essência. Nessa jornada de autoconhecimento passamos a nos desidentificar de pensamentos, emoções e comportamentos que estão nos impedindo de vivenciar nossa verdadeira natureza. Para auxiliar com a sua auto investigação, escrevi e compartilho abaixo alguns resumos. Faço também o convite para que você, cuidadosamente, observe as imagens que a artista Ana Roldán criou para cada personalidade e perceba quanta riqueza de informações/contribuições nelas há.
[Eneatipo 1]
“Aquilo que não és capaz de aceitar é a única causa do teu sofrimento”. Gerardo Schmedling
A dor das pessoas com essa personalidade está no constante esforço para atingir a perfeição. Para compensar o sentimento de que existe algo a ser corrigido no mundo (e nelas mesmas), criaram um ideal de como as situações e as pessoas deveriam ser. Nesse empenho, tornam-se muito exigentes/críticas e, como nunca atingem o nível de perfeição desejado, tendem a ficar irritadas e frustradas com facilidade. São pessoas que geralmente estão convencidas de que a sua maneira de ver as coisas é a única maneira certa. Por causa da rigidez, tentam impor seu ponto de vista àqueles que pensam ou agem de maneira diferente.
Quando vão fazendo o trabalho interior, vão reconectando-se com sua qualidade essencial: a serenidade. A serenidade abre as portas para um coração quieto que não se perde mais em reatividade. São pessoas que seguem motivadas por fazer a coisa certa (aquilo que é íntegro e justo), porém, tornam-se mais sábias e ponderadas. Podem até não concordar com tudo que enxergam de “errado” no mundo, no entanto, passam a aceitar que a imperfeição faz parte da condição humana.
Para você que se identifica com esse tipo de personalidade talvez seja importante refletir: você consegue continuar se aperfeiçoando – ao mesmo tempo – em que se aceita e se ama exatamente como já é?
[Eneatipo 2]
“Não há amor suficiente neste mundo para preencher o vazio de uma pessoa que não ama a si mesma”. Irene Orce
O desafio dessa personalidade é o orgulho. Internalizou que é a pessoa que sabe o que os outros precisam e, por isso, considera-se indispensável na vida do outro. Acredita que quanto mais ajudar as pessoas, mais elas o amarão. E que, quanto mais a amarem, mais feliz será. Para essa personalidade, o importante é ser uma pessoa querida e agradável. O orgulho mascara a carência, a dependência da atenção do outro e a dificuldade de estar só. Nesse processo de se desdobrar para agradar, acabam perdendo o contato com as suas próprias necessidades.
Quando vão verdadeiramente fazendo o trabalho interior e recuperando o contato com sua essência, reconectam-se com a qualidade essencial da humildade. Por meio dela passam a se ocupar primeiramente de suas próprias necessidades, amando-se como são. Já não desejam ser mais do que simplesmente humanos. Continuam generosas, porém aprendem a pedir ajuda, a estar um pouco mais sozinhas e a tomar decisões racionais (e não apenas emocionais).
Para você que se identifica com essa personalidade, o questionamento é: quando você está se amando de verdade?
[Eneatipo 3]
“Seja você mesmo, o resto dos papéis já foram ocupados”. Oscar Wilde
A ferida aqui está em não valorizar genuinamente o Si Mesmo. Acreditam que, caso não se destaquem, brilhem ou se sobressaiam em algum ambiente, ninguém os dará valor. Tendem a achar que seu valor como ser humano depende de seus triunfos profissionais, do status social alcançado ou da aparência física. Por isso buscam se sobressair através da imagem, do êxito e do reconhecimento. Importam-se muito em se sentirem admiradas, mesmo que – para impressionar – tenham que abdicar de muitos aspectos de sua vida ou fingir serem algo que não são (até que o seu objetivo seja alcançado).
Quando vão recuperando o contato com o Ser, reencontram sua qualidade essencial: a autenticidade! Desenvolvem autoestima genuína e coerência entre o que dizem, sentem e fazem, ousando se mostrar como são (sem mais precisar se moldar àquilo que, supostamente, vai impressionar os outros). Passam a se amar de verdade e então já não é mais preciso competir. Colaboram, se engajam e brilham! Seus esforços passam a ser guiados pelo coração.
Para você que se identifica com esse tipo de personalidade, a questão é: você já consegue confiar que irão o valorizar, mesmo se você deixar de tentar impressionar, e simplesmente se mostrar como é?
[Eneatipo 4]
“A tristeza prepara você para a alegria. Ela varre violentamente tudo para fora de sua casa para que uma nova alegria encontre espaço para entrar”. Rumi
O desafio dessas pessoas está em perceber que o seu sofrimento não deve ser o centro de sua própria vida. Tal sofrimento é a maneira que a personalidade encontrou para ser percebida pelos outros e passar a impressão de ser uma pessoa diferente. Geralmente consideram que lhes falta algo para serem felizes, tendem a cultivar um estado de melancolia e se sentem incompreendidas nos seus altos e baixos emocionais frequentes.
Quando vão verdadeiramente fazendo o trabalho interior e recuperando o contato com a essência, entram em contato com sua qualidade essencial: a equanimidade. Continuam sendo pessoas sensíveis, intuitivas, criativas e originais, mas agora sem cultivarem dramas. Abrem-se para uma quietude interior que traz a capacidade de lidarem com qualquer emoção sem se apegar a ele e sem a rejeitar.
Para você que se identifica com essa personalidade, a questão é: a quais dramas você tem se apegado?
[Eneatipo 5]
“A fuga não levou ninguém a nenhum lugar.” Antoine de Saint-Exupéry
Um dos maiores desafios das pessoas que têm esse tipo de personalidade são os relacionamentos. Tudo o que envolve sentimentos, contato físico, bem como disponibilização de tempo e de recursos para os outros, assusta-os. Essas pessoas têm a impressão de que se compartilharem, irão perder o pouco que têm. Tendem a se trancafiar em sua solitude, focando em seu mundo racional, teórico, intelectual. Têm receio de enfrentar a realidade, principalmente quando surgem compromissos emocionais com outras pessoas.
Quando vão fazendo o trabalho interno e se sintonizando com sua verdadeira essência, entram em contato com sua qualidade essencial: o desapego. Passam a explorar o mundo com o olhar de uma criança e se realizam da grande certeza que é impermanência da vida. Quando vivenciam a transitoriedade de tudo, compreendem também que compartilhar não nos empobrece, pelo contrário, só nos enriquece!
Para você que se identifica com esse tipo de personalidade, a questão é: como deixar de racionalizar e passar a agir, a sentir e – ainda assim – seguir adquirindo conhecimento?
[Eneatipo 6]
“Quem tem medo sem perigo, inventa para si mesmo o perigo para justificar o seu medo.” Alain
O desafio dessa personalidade está na dificuldade de confiar de si mesmo. São pessoas frequentemente tomadas por dúvidas, medo e ansiedade relacionados a potenciais problemas futuros. Vivem em constante estado de alerta para não serem pegas desprevenidas. Por sentirem-se inseguras, tendem a desconfiar da intenção alheia, projetar suas neuroses nos outros e se preocupar com o pior que pode acontecer. Querem ter certeza absoluta cada vez que precisam tomar uma decisão.
Quando vão sintonizando-se com a sua verdadeira natureza, reconectam-se com sua qualidade essencial: a coragem! Atrevem-se a ser fiéis a si mesmas, tomando decisões movidas pela sua intuição e por seus valores. Coragem não é sobre se jogar de forma desastrosa na direção daquilo que se teme. Coragem é sobre falar a verdade, se mostrar, encarar cada dia ousando ser quem se é.
Para você que se identifica com esse tipo de personalidade, a questão é: pelo que vale a pena lutar?
[Eneatipo 7]
“Se com tudo o que tens, não és feliz; com tudo o que lhe falta também não serás.” Erich Fromm
A dificuldade dessa personalidade está em entrar em contato com o vazio existencial. Tendem a desenvolver um jeito divertido, alegre e positivo, usando o senso de humor e a racionalização como forma de se esquivar de assuntos e situações difíceis. Têm dificuldade de escutar os outros com paciência, porque também há dificuldade de escutar verdadeiramente a si mesmas. Geralmente são obcecadas pela busca de prazer imediato como forma de não lidar com sua angústia crônica. Especialistas em fugir da dor através do barulho, dos planos ou do entretenimento.
Quando vão recuperando o contato com sua verdadeira essência, reconectam-se com sua qualidade essencial: a sobriedade. A sobriedade as ajuda a sentirem-se bem consigo mesmas (sem a necessidade de tantos estímulos externos). Essas pessoas acessam então uma alegria mais natural (que é diferente da excitação) e sentem-se satisfeitas com o que se apresenta aqui, neste momento. Assim, conseguem se dedicar com seriedade ao que verdadeiramente importa.
Para você que se identifica com esse tipo de personalidade, a questão é: como ser feliz sem fugir do vazio e da dor que existe em seu interior?
[Eneatipo 8]
“A melhor defesa não é um bom ataque; a melhor defesa é não se sentir atacado.” Gerardo Schmedling
O maior medo dessas pessoas é o de que outras pessoas as prejudiquem, as controlem ou as dominem. Geralmente se protegem atrás de uma couraça firme e vivem na defensiva, reagindo de forma agressiva quando se sentem ameaçadas. Tendem a intimidar e gostam de se encarregar das situações – a fim de não se sentirem submetidas à vontade dos outros. Não suportam que os digam o que elas têm que fazer e também não suportam situações de injustiça. Para proteger sua vulnerabilidade, acreditam que a melhor defesa é um bom ataque.
Recuperando o contato com a sua verdadeira essência, entram em contato com sua qualidade essencial: a inocência! Por trás da armadura, há um coração enorme, gigante, muito protetor e cuidador. Quando vão se desenvolvendo, essas pessoas continuam vivendo com entusiasmo, assertividade e cheias de energia, mas agora com um coração aberto e tocável. Tornam-se pessoas que colocam toda sua força à serviço dos outros (e não contra os outros). São pessoas que agora também se dão a permissão de chorar quando estão tristes, de sentir, de demonstrar afeto e de soltar a necessidade de controlar tudo e todos.
Para você que se identifica com essa personalidade, lanço a questão : como soltar a armadura e o desejo de controlar apesar do receio de que possam te fazer mal?
[Eneatipo 9]
“Não há pior cego do que aquele que não quer ver.” Provérbio Chinês
As dificuldades dessas pessoas estão relacionadas com a questão de não terem aprendido a lidar com os conflitos e com a raiva. São pessoas que tendem a se recusar, a se anular e a se instalar em uma zona de conforto (onde vivem alienadas de si mesmas). Para elas é difícil dizer “não”, por medo de alguém possa se ressentir e por medo de enfrentar os conflitos. Renunciam com facilidade, tendem a procrastinar suas prioridades e podem se sentir dominadas pela apatia, passividade e comodismo.
Quando começam a recuperar o contato com a sua verdadeira essência, essas pessoas entram em contato com a sua grande qualidade: a ação certa! Começam a fazer o que tem que ser feito sem pestanejar. Passam a agir e a se mover conscientemente, enfrentando os conflitos com assertividade. Continuam motivadas pelo amor à paz e à tranquilidade, mas agora tomam as rédeas da própria vida, se engajam e são proativas. Tornam-se autoconscientes e autoconfiantes. Agem em benefício próprio, ao mesmo tempo que impactam o seu entorno de forma positiva. Para você que se identifica com essa personalidade, eis a reflexão: como você faz para entrar em conflitos e estabelecer seus limites e, ainda assim, manter a sua paz interior?
Que as reflexões acima contribuam com a sua caminhada.
Com amor,
Monique