“O ato de escrever e pensar a respeito de um evento emocional nos permite estabelecer certa distância entre as fontes de desconforto e formar uma perspectiva mais objetiva da situação ou do evento.”
— Stefan G. Hofmann
Essa semana, uma cliente, em psicoterapia, me contou como conseguiu contornar uma emoção difícil que viveu durante o período em que estivemos sem sessões — escrevendo. A partir da escrita, ela conseguiu encontrar a ação certa a ser tomada diante do que lhe aconteceu. Fiquei muito feliz por ela ter lembrado e feito uso dessa ferramenta terapêutica. O relato dela reforçou ainda mais a vontade que eu já tinha de trazer para este blog um texto sobre o maravilhoso recurso que é a escrita.
Há diversos estudos que comprovam que a escrita expressiva pode impactar positivamente a saúde mental e física das pessoas. Em um deles, por exemplo, mulheres com transtorno de estresse pós-traumático foram orientadas a escrever por 15 a 20 minutos diários sobre experiências emocionalmente incômodas. Outro grupo, o grupo de controle, foi orientado a escrever sobre assuntos superficiais. Após quatro semanas, as mulheres que escreveram sobre seus sentimentos e pensamentos relataram menos sintomas depressivos do que aquelas que escreveram sobre amenidades.
A proposta da escrita expressiva é justamente essa: que você pare de evitar o que sente ou de agir impulsivamente para, ao invés disso, se expor com calma às suas próprias emoções — podendo assim perceber pensamentos e sentimentos mais profundos. Quando escrevemos com presença mental, nossos pensamentos são “obrigados” a diminuir de velocidade e, aos poucos, vamos abrindo espaço para encontrar nosso próprio ritmo interno de escrita e de processamento. Isso nos ajuda muito a observar o que está acontecendo internamente.
Quero compartilhar contigo algumas sugestões de como começar a praticar a escrita expressiva — de um jeito simples, respeitoso e acolhedor com aquilo que você sente.
Como começar:
1. Escolha um tempo só seu
Reserve de 15 a 20 minutos em um lugar tranquilo, onde você possa escrever sem interrupções. Não precisa ser todos os dias — comece com o que for possível, mas priorize esse tempo de escuta interna. Importante é, também, escolher um caderno exclusivo que seja destinado só para receber essa sua expressão sensível.
2. Escreva sobre o que estiver vivo em você
Você pode começar escrevendo sobre algo que está te incomodando, uma emoção difícil, um acontecimento recente ou algo que você não consegue parar de pensar. Permita que as palavras saiam como vierem — sem censura, sem edição, sem preocupação com gramática, estética ou lógica. Não pare para pensar, siga escrevendo mesmo quando não souber o que vai dizer em seguida.
3. Não se preocupe em “entender” ou resolver
Essa escrita, da qual estamos falando aqui, não tem o objetivo de resolver questão alguma, assim como não tem o objetivo de se tornar uma obra literária (ainda que possa). É mais sobre se permitir sentir, perceber, nomear. Às vezes só o ato de colocar no papel já traz alívio, clareza ou uma nova perspectiva. Não há certo ou errado. Experimente prestar atenção aos pensamentos e emoções que surgirem a medida em que você escreve, bem como às sensações no corpo. Se ficar com dúvidas, vale escrever “não sei o que escrever” (ainda que precise repetir isso várias vezes).
4. Permita-se ir fundo, mas com gentileza
Se algo parecer intenso demais, vá aos poucos. Você pode escrever e depois fechar o caderno, respirar, se acolher. Faça uma pausa, descanse a mente. O objetivo da escrita expressiva não é forçar nada, mas criar um canal seguro de contato com o que está aí dentro.
5. Dê um destino ao que escreveu
Você pode guardar seus escritos, rasgar, reler depois de um tempo ou até transformar em algo criativo. O que importa é que você encontre uma forma de cuidar desse algo precioso que está sendo revelado.
6. Se quiser, use perguntas para começar
- O que estou sentindo agora?
- O que aconteceu hoje que me tocou de alguma forma?
- O que está me incomodando e por quê?
- O que eu gostaria de dizer e ainda não disse?
A escrita expressiva é um convite para olhar para dentro com curiosidade e cuidado. Não exige perfeição, apenas presença. Às vezes, tudo o que precisamos é de uma folha em branco e a coragem de sermos verdadeiros conosco. Que você se surpreenda positivamente com os movimentos internos (e externos) que a escrita pode despertar em você.
Com carinho, Monique